Política - Candidatos à prefeitura falam de propostas para a Orla de Salvador

Após toda polêmica sobre a derrubada das barracas de praia, o soteropolitano aguarda uma solução que agrade a comerciantes e frequentadores da região. Propostas de revitalização, relocalização de pistas e construção de novas barracas no calçadão são alguns dos objetivos dos prefeituráveis de Salvador. 

 

Apesar disso, especialistas garantem que o problema da Orla da cidade ultrapassa o alcance das propostas dos candidatos que, segundo eles, inicialmente, deveriam ter realizado um projeto urbanístico para garantir a eficácia das propostas e aprovação dos projetos. 

 

De acordo com o especialista em economia urbana do Conselho Federal de Economia, Nei Cardim, duas ações distintas causaram a atual situação de abandono da orla da capital. “Por questões ambientais, as barracas tiveram que ser retiradas para preservação da areia e da própria praia. Após resolver esta questão, nos deparamos com a ausência de políticas públicas para planejar a área. Temos a maior e mais feia orla do Nordeste”, afirma.

 

Sob o ponto de vista econômico, Cardim explica que Salvador perdeu potencial turístico e comercial, já que o número de usuários das praias é menor comparado há dois anos. “A retirada foi o mais lógico a ser feito, porém muitos deixaram de admirar e frequentar nossas praias por causa do maltrato, desorganização e abandono atual. Já no aspecto individual, comerciantes que dedicaram anos trabalhando nestes locais tiveram que investir em outros segmentos ou tornaram-se empregados em outros serviços”, disse. 

Fomentar o turismo local e as atividades econômicas da cidade são as principais expectativas de economistas, comerciantes e moradores da Orla de Salvador. Com o objetivo de conquistar a cadeira do Palácio Thomé de Souza, os prefeituráveis apostam em propostas que prometem assemelhar a Orla soteropolitana com a de outras capitais turísticas como Rio de Janeiro.

Alargamento de calçadas, iluminação noturna, práticas esportivas e quiosques no lugar das barracas são ações que fazem parte dos projetos dos candidatos.

Nos planos do petista Nelson Pelegrino, a revitalização é prioridade de gestão e deve abranger as praias do Subúrbio Ferroviário e Baía de Todos os Santos. “Nosso objetivo é alavancar o setor turístico e de serviço, já estando em andamento os estudos de requalificação com recursos federais, estaduais e do próprio município”, disse o candidato.

De acordo com ele, está programada uma requalificação urbanista completa, com alargamento das calçadas e construção de quiosques, ambientalmente corretos. Antes da elaboração do projeto, Pelegrino afirmou ter viajado ao Rio de Janeiro e garantiu implantar uma série de equipamentos de lazer para a população. Ele disse que já existem estudos em andamento para o projeto de requalificação orçado em aproximadamente R$ 1 bilhão, com recursos federais, estaduais e do município.

Para o democrata ACM Neto, Salvador precisa urgentemente ter a sua orla requalificada. O candidato disse que vai trabalhar duro para fazer isso, com intervenções públicas como ampliação de calçadões (onde for possível) e atração de investimentos privados, a exemplo de bares e restaurantes, dentro da área permitida e com incentivos fiscais.

ACM Neto se comprometeu em melhorar ainda a iluminação para garantir vida noturna com mais segurança à Orla, com o apoio constante da Guarda Municipal. “Salvador precisa ter uma Orla tão bela e organizada quanto de outras capitais do Nordeste, até porque já estamos às vésperas da Copa das Confederações e Copa do Mundo”, pontuou.

Plano de urbanismo é necessário

De acordo com Nivaldo Andrade, professor de Arquitetura da Ufba e presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB-BA), a revisão da Lei de Ordenamento do Solo e Qualificação da Orla são as principais medidas a serem tomadas pelo próximo gestor.

“Sabemos que a Orla precisa ser mudada e ter edificações mais altas, mas desse jeito que aprovaram é um absurdo. De fato, temos que alargar as calçadas, mas não podemos retomar as barracas. Precisamos qualificar a praia como um espaço de lazer, quem quiser almoçar deve procurar um restaurante e não as barracas”.

 

Segundo Cardim, o próximo gestor terá que usar a sensibilidade para recuperar a beleza e atração das praias soteropolitanas. “É necessário que os baianos tenham vontade de frequentar novamente as praias e que os turistas sintam-se atraídos pela beleza da nossa Salvador. O próximo prefeito terá que ter vontade e sensibilidade para devolver a “vida” a nossa Orla”, pontuou. 

 

Ainda de acordo com Nivaldo Andrade, antes da elaboração de qualquer proposta, o candidato deveria elaborar planos de execução e urbanismo, juntamente com ajuda de técnicos, arquitetos e urbanistas, para não haver problemas futuros. “Isso é fundamental para que não se aprove leis sem fundamentos. Não sou contra a verticalização da cidade, mas tudo precisa ser feito com critérios mais válidos”.

 

O candidato Mário Kertész (PMDB) também quer priorizar a revitalização da Orla da capital. Além dos quiosques na calçada, o peemedebista pretende, com o projeto “Orla 24 horas”, criar uma Arena Multiuso cultural-esportiva no espaço compreendido entre o Aeroclube e a sede de praia do Bahia, com quadras poliesportivas e uma concha acústica. Infraestrutura básica e iluminação intensa também são pontos do candidato.

 

Caso seja eleito, a mudança na Louos e no Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) são as medidas mais urgentes a serem tomadas por Rogério Da Luz (PRTB). “Primeiro tiraram as barracas, agora querem tirar o sol. Só falta tirar a água e deixar somente areia para os baianos”, disse o candidato. 

Além disso, Da Luz aposta na construção das barracas padronizadas e afirma já ter dado início a um levantamento para recuperar a Orla do Subúrbio Ferroviário. “No lugar dos trilhos quero fazer um calçadão com barracas, áreas de lazer e iluminação adequada”, garante. 

 

A Tribuna fez contato com as assessorias dos candidatos Hamilton de Assis (PSOL) e Márcio Marinho (PRB) para obter as respectivas propostas para revitalização da Orla da cidade, mas não obteve retorno. Anteontem, no debate da TV Aratu, Marinho disse que entre suas prioridades estava melhorar a iluminação da Orla da capital.

 

*Matéria da repórter Daniela Pereira publicada na versão impressa da Tribuna da Bahia