Política - Cassado, Torres fica inelegível até 2027
O senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) teve o mandato cassado ontem por 56 votos a favor, 19 contrários e cinco abstenções. A sessão que cassou Demóstenes durou pouco mais de três horas. Ele se tornou o segundo parlamentar, em 188 anos de história, a ser excluído da Casa pelos próprios colegas.
Com a decisão, Demóstenes deverá voltar ao cargo de procurador de Justiça de Goiás, do qual se licenciou em 2001 a fim de se eleger a primeira vez senador da República.
No retorno, está na iminência de ser investigado pelos colegas de Ministério Público. Com a cassação, ele só poderá se candidatar a um cargo eletivo em 2027.
Um dos principais líderes da chamada “bancada ética” do Senado, Demóstenes foi flagrado em escutas pela Polícia Federal em situações que sugerem o uso do cargo em benefício do suposto esquema criminoso comandado por Carlinhos Cachoeira. Além disso, é acusado de ter mentido em plenário quando disse que somente mantinha relação de amizade com o empresário.
Em sua última tentativa de se manter no cargo, Demóstenes apelou aos senadores: “Quem cassa senador é senador e não a imprensa. Por favor, me deem oportunidade de provar que sou inocente. Não acabem com a minha vida.”
Apenas o senador Clovis Fecury (DEM-MA) não compareceu. Ele está de licença para tratar de assuntos pessoais. Até hoje o Senado só havia cassado o mandato de Luiz Estevão (DF), em 2000, no escândalo de desvio de recursos das obras do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo.
“Hoje é um dia de moralidade, sim. Mas o país sabe que aqui não tem moralidade. O Brasil inteiro sabe que não existe Senado, que não existe Câmara neste país. E deve estar dizendo: me engana, que eu gosto”, disse o senador Mário Couto (PSDB-PA). O tucano fez os ataques mais duros a Demóstenes ao afirmar que a voz nas gravações da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, é do parlamentar. E que sua conduta frustrou os colegas senadores.
O senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) disse que é muito difícil julgar um senador que recebeu dois milhões de votos e chegou a ser apontado como “um dos mais influentes” do país que “gozava de elevada reputação e credibilidade”. Mas cobrou que a Casa dê respostas às acusações. “Não basta ser inteligente, é preciso ter predisposição de caráter.”
Afirmou ainda que foi “perseguido como um cão sarnento” e investigado como nenhum outro político no país. O advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, antecedeu Demóstenes na tribuna. “É suficiente para cassar um senador o fato de ter usado um rádio nextel?”, questionou.
O rádio a que se referiu foi dado a Demóstenes pelo empresário Carlinhos Cachoeira, e era usado pelos membros de uma quadrilha que, segundo a PF, corrompia agentes públicos.
“O objeto da CPI não é a perda do mandato do senador Demóstenes. Seus membros têm a obrigação de continuar apurando todos os fatos que levaram a essa cassação, para que possamos tomar atitudes que possam representar a punição de um esquema organizado que se instalou, principalmente, no Centro-Oeste”, disse Pinheiro.
Para ele, a CPI tem obrigação de tomar atitudes “para que possamos reaver parte daquilo que foi retirado dos cofres públicos, punir os culpados e produzir, a partir dessa experiência, legislação para que fatos como esse não se repitam”.
“Enquanto o Congresso Nacional não assumir, com muita coragem, a necessidade de uma profunda reforma política, nós vamos conviver com ciclos permanentes de novos escândalos sobre a relação entre o poder público e os interesses empresariais neste País”, previu Lídice.
“Fazer uma reforma política e, no mínimo, garantir o financiamento público de campanha, cada dia mais se torna um dever do Parlamento brasileiro”, defendeu a líder do PSB no Senado.
Publicada: 12/07/2012 00:21| Atualizada: 12/07/2012 00:02
Leia mais em: www.tribunadabahia.com.br