Política - Leão admite recuo alegando falta de recursos

28/05/2012 15:19

 

 

Conhecido por suas declarações polêmicas, o deputado federal João Leão (PP), ex-secretário da Casa Civil, que se tornou fiel escudeiro do prefeito João Henrique, em entrevista exclusiva à Tribuna, já admite recuar da tão propagada pré-candidatura. A justificativa seria, conforme ele mesmo atesta, falta de recursos para uma grande campanha. 

O fato, inevitavelmente, dá brechas para a já ventilada possibilidade de negociação do PP com o PT, do governador Jaques Wagner, embora ele negue. João Leão, ainda que nas entrelinhas, acusa os ex-aliados de João Henrique, a  exemplo do PMDB, de traição. Por fim, rasga elogios a Wagner, no entanto, afirma que: “o Partido Progressista tem pessoas que podem ter um governo tão bom ou melhor do que o do Partido dos Trabalhadores”.

 
Tribuna da Bahia: A sua candidatura à prefeitura de Salvador está posta ou, em algum momento, ela pode vir a aderir ao PT? Qual a expectativa do senhor, de forma bem clara, a partir de agora, já que a gente está em um processo de definições?
João Leão: A candidatura não é minha, é do partido, dos companheiros do partido, dos correligionários e do povo de Salvador. Eu gostaria muito de ser prefeito de Salvador porque Salvador é uma cidade de desafios. Agora, com essas chuvas todas, aconteceu uma série de problemas, e eu gostaria de ser um instrumento junto ao povo, aos meus companheiros, para resolver os problemas de Salvador. A minha candidatura está posta e eu só tenho um problema que é a questão dos recursos para a campanha. Nós estamos vivendo um momento muito difícil na questão eleitoral. Tivemos, lá atrás, o problema do mensalão, agora o problema da CPI de Cachoeira. Dinheiro para campanha não está fácil. Primeiro porque eu não vou aceitar recursos de caixa dois. Se nós pudéssemos fazer campanha como nos Estados Unidos, onde se pede recursos ao povo, que contribui com o próprio dinheiro, seria uma coisa totalmente diferente. Dessa forma, minha candidatura seria inarredável. 
 
Tribuna: Essa dificuldade em levantar recursos limpos declarados para a campanha pode ser um fator que impeça ou inviabilize a sua candidatura? Essa é a única ameaça que a sua candidatura tem?
João Leão: É a única ameaça que eu vejo. Quem está com esse problema não sou apenas eu. Todos os postulantes a prefeito de Salvador estão com esse problema. Às vezes, as pessoas dizem que uma candidatura a prefeito de Salvador vai custar R$ 15 milhões,  R$ 20 milhões, mas eu não acredito que se gaste tanto em uma campanha eleitoral. Eu tenho feito as minhas campanhas eleitorais em diversos municípios da Bahia, declarando tudo 100%, e não vejo por que, em Salvador, se gastar essa fortuna em uma campanha eleitoral.
 
Tribuna: O senhor acredita que o prefeito João Henrique possa vir a negociar uma vice de Nelson Pelegrino? Acha que existe o risco de ele ir sem o PP?
João Leão: Eu acho muito difícil. Primeiro porque o prefeito é do PP e todos os seus correligionários vieram para o partido. Praticamente todas as pessoas que acompanham o prefeito João Henrique vieram para o PP. Isso para mim é sonho.
 
Tribuna: O senhor não acha que há o temor de o prefeito vir a romper com o PP, como ele já fez com o PMDB e com vários outros partidospelos quais ele passou?
João Leão: Não acredito nisso porque eu convivi com João Henrique durante 10 meses, mais ou menos, à frente da prefeitura.  O rompimento, ou não, dele com outros partidos, para mim, é coisa do passado, ele deve ter tido razões para romper. Nós entramos na prefeitura e não dissemos que a caneta era nossa, do nosso partido. Não, nós entramos tendo como comandante o prefeito João Henrique e fizemos uma parceria excepcional. Veio o secretário José Matos, da área de estrutura, eu fui para a Casa Civil, alguns outros amigos nossos acompanharam, passaram por outros cargos e nós trabalhamos de forma a ajudar o prefeito João Henrique. Traição, jamais!
 
Tribuna: A candidatura do senhor vai servir para defender a gestão do prefeito? Como o PT e o Democratas vão se comportar com relação a essa gestão do prefeito João Henrique?
João Leão: É aquela velha história, “eu quero” subir nas pesquisas e a melhor maneira é, hoje, em Salvador, bater na gestão de João Henrique. Eu acho que nós temos pontos fundamentais na gestão de João Henrique que são perfeitamente passíveis de defesa. Temos, por exemplo, a questão da educação, que melhorou consideravelmente em Salvador, a saúde que ainda tem problemas, mas existe uma nova equipe procurando resolver os problemas. Todas as administrações têm os prós e os contras. Por exemplo, infraestrutura, o prefeito João Henrique fez no subúrbio 64 novas ruas, estão fazendo a Vasco da Gama, o metrô está pronto para rodar. Existe muita coisa na administração do prefeito João Henrique que é perfeitamente passível de resolução. Agora, eu, na minha, vou apontar também aquilo que estiver faltando, vou dizer o que quero propor a Salvador, porque Salvador não é só metrô, não é só infraestrutura, é um mega de assuntos que se tem para levar à população. Um exemplo claro é que a população começa a ter necessidade da prefeitura a partir da porta de casa. Desde a calçada da rua, o asfalto e assim sucessivamente.
 
Tribuna: Como o senhor avalia a gestão do prefeito João Henrique, tendo participado dela? O senhor acha que ela peca em capacidade gerencial?
João Leão: Isso é um grande ponto de interrogação. Se você for ver, o DEM, o PT, o PCdoB participaram da administração do prefeito João Henrique. Todos os partidos que se dizem de oposição querem atacar a prefeitura e querem também, se possível, o apoio do prefeito João Henrique. Administração do prefeito João Henrique não tem esses problemas todos porque, se fosse assim, o DEM e o PT não queriam o apoio de João Henrique. É aquela velha história, se ele vier para mim é bom, se for para o outro lado, não presta.
 
Tribuna: Há quem diga que o PP fez muito menos na prefeitura do que o PMDB conseguiu fazer. Como o senhor avalia essas críticas?
João Leão: O PMDB entrou em uma época do governo Lula, com Geddel ministro da Integração, em uma época de campanha eleitoral, levou mais de dois anos e meio à frente da prefeitura e, no entanto, não fez essas “coca-colas” todas. Teve um esforço muito grande do prefeito João Henrique, e tudo de bom o PMDB puxa para ele e tudo de mal foi João Henrique que fez. O que eu vejo bem na prefeitura é a vontade. Eu disse, uma certa vez, que o nível do secretariado do prefeito João Henrique é um bom nível e é mesmo. Mas cada um puxa a brasa para a sua sardinha. Eu tenho uma carreira política que, por tabela, herdei muito do PMDB. Quando eu fui para a Secretaria de Infraestrutura do governo do Estado, eu a encontrei paralisada e com os empresários em greve. Em sete meses e 17 dias, eu peguei o que eles não fizeram em dois anos, quase três, à frente da secretaria e fiz quatro mil quilômetros de rodovias, coloquei 100 mil ligações no Luz para Todos, que nos contratos deles eram apenas 25 mil, e eu consegui colocar telefonia celular em todas as cidades da Bahia. Foram 167 municípios enquanto, nos dois anos e meio, eles só colocaram em sete.
 
Tribuna: Em Salvador, o que vai lhe gabaritar para assumir uma candidatura que comece fortalecida, sendo que o senhor é desconhecido do grande eleitorado?
João Leão: Esse é o meu problema. Só 23,7 % da população de Salvador me conhece. Se eu conseguir que 100 % da população me conheça, com os índices que tenho de 23,7, eu estarei no segundo turno. Agora, o que eu vou mostrar da minha história à população de Salvador? Eu espero que cada candidato coloque a própria história, o que fez pela Bahia, de maneira geral, a história de política, os problemas, a vida, que cada candidato exponha tudo porque isso vai ser levantado.
 
Tribuna: O senhor acha que o que vai estar mais em discussão é a capacidade gerencial, a capacidade de resgatar a cidade do estado em que ela se encontra?
João Leão: O que eu vejo que a população de Salvador quer é um bom gestor. Às vezes, as pessoas dizem que Salvador não tem dinheiro. Eu, quando entrei no Estado para ser secretário de Infraestrutura, não tinha dinheiro. No entanto, consegui 560 milhões no BNDES e um bilhão de reais na Eletrobrás. Na prefeitura, conseguimos duzentos e tantos milhões para concluir o metrô, fora uma série de obras que conseguimos.
 
Tribuna: O senhor acredita que o governador Jaques Wagner vai apoiar uma candidatura do senhor e vai chegar à sua convenção ou o senhor não espera esse tipo de apoio?
João Leão: O governador Jaques Wagner que se ofereceu e disse: “Leão, estarei na sua convenção”, não fui eu que pedi. Acredito que, obviamente, é aquela velha história que se Mário Negromonte e o prefeito João Henrique, que são do meu partido, forem candidatos a qualquer cargo, eu terei que estar com eles. É o caso de Pelegrino, o coração do governador Jaques Wagner, obviamente, vai bater por Pelegrino. Eu tenho certeza que, para Salvador, lá no subconsciente, Wagner pensa que João Leão seja, talvez, o melhor de todos.
 
Tribuna: Como o senhor viu a decisão do Democratas em lançar ACM Neto e inviabilizar a união das oposições? 
João Leão: Eu acho que, falando de política com “P” maiúsculo, é lógico que o candidato das oposições teria que ser ACM Neto. Um tem 25, o outro tem três, o outro tem dois, o outro não tem nada, então se a oposição tivesse sido inteligente, apoiaria ACM Neto. Mas, por tradição, o DEM tem um teto. Na política, me lembro bem, Lula, quando foi candidato da última vez, começou embaixo, Serra estava em cima e Jaques Wagner começou, na Bahia, com sete por cento. Quando eu digo a Wagner que vou ganhar as eleições, ele diz: 'Leão, só você e eu acreditamos nisso porque eu era a mesma coisa quando lancei a minha campanha, ninguém acreditava'. Eu acho que cada um tem que mostrar quem é e o povo de Salvador vai querer saber quem é Leão, o que ele fez, quem é ACM Neto, o que ele fez, quem é Pelegrino, o que ele fez, quem é Mário Kertész, o que ele fez, e assim sucessivamente.
 
Tribuna: Qual o caminho que o senhor acha que é do PMDB?
João Leão: Eu acho que deveria apoiar João Leão, começa por aí.
 
Tribuna: Mário não sustenta candidatura?
João Leão: Não sei, porque quanto mais candidatos tivermos, melhores debates nós teremos sobre as questões da cidade. Mário é um homem muito inteligente, justiça seja feita, nós não podemos dizer o contrário. Seria bom se ele viesse para o debate, é importante para Salvador a candidatura de Mário.
 
Tribuna: O senhor acredita que, com a tensão que houve entre a prefeitura e o governo do Estado, a questão do metrô vai ficar como? Ele começa a funcionar agora ou é um projeto que não vai sair do papel?
João Leão: Do papel já saiu, o metrô está pronto.
 
Tribuna: Mas a população não está circulando nele!
João Leão: O metrô está pronto, é uma questão de quem vai e de onde virão os recursos para a manutenção do metrô neste primeiro momento. Nós precisaríamos de algo em torno de R$ 30 milhões para o ferramental e para colocar em funcionamento. Mas nós temos outros problemas, temos o convênio com a Embasa de 60 milhões de reais que está assinado e pronto. Por exemplo, você, hoje, passa pela Paralela, vê um buraco e se nós já estivéssemos iniciado esse trabalho, se o Estado já tivesse liberado a primeira parcela, nós teríamos a Paralela recapeada e, assim, mais 17 avenidas em Salvador.
 
Tribuna: Como Leão vai ter dinheiro se, um dia, sentar na prefeitura?
João Leão: Aqui para nós, Leão faz mágica. Quando você olha para o lado do meu gabinete e vê uma obra minha, que é linda e maravilhosa, quando você olha outra obra que é a Ferrovia Oeste-Leste, que vai custar 10 bilhões de reais, fui eu que criei também, isso mostra que eu tenho o conhecimento do Congresso Nacional e tenho conhecimento de onde está o dinheiro. Eu tenho a satisfação de ter, dos trinta e tantos ministros da presidente Dilma, 17 ministros que foram meus colegas, são meus amigos, e todos, tenho certeza, vão querer me ajudar.
 
Tribuna: O que o senhor aponta como maior erro do governo João Henrique?
João Leão: Talvez tenha sido a comunicação. A administração dele não conseguiu se comunicar o suficiente para mostrar aquilo que estava sendo executado, o que estava sendo feito. Daqui a quatro anos você vai me perguntar, a Pelegrino, a Neto, a Mário Kertész, a Alice Portugal, a todos os candidatos e àquele que for prefeito, “e por que não fez isso, e por que não fez aquilo”? É a realidade. Nós não vamos conseguir em quatro anos fazer tudo. Isso é óbvio ululante. Mas que tem muita coisa que pode ser feita, tem.
 
Tribuna: O senhor acredita que o próprio governador Jaques Wagner já começa a ter a imagem dele danificada por conta dessas mobilizações? Greves de professores e até mesmo a seca, que atinge tantos municípios, na Bahia? O senhor acha que isso vai impactar negativamente na campanha?
João Leão: A política, como um todo, é igual a uma nuvem, já dizia o velho Luis Viana Filho. Uma hora está de um jeito e outra hora está de outro. Jaques Wagner está passando por uma tempestade. Foi a greve da Polícia Militar, a questão dos professores que estão aí há 50 dias em greve, a questão da seca, mas, de repente, chove no sertão, todo mundo fica feliz, os professores voltam às aulas e a Polícia Militar resolve seus problemas. Aí Jaques Wagner vai ser o melhor governador do mundo.
 
Tribuna: Eu volto a insistir, o senhor acha que não falta uma preocupação maior com o profissionalismo da gestão do governador?
João Leão: Não. Eu trouxe uma pessoa que era presidente da Petrobras para ser o coordenador de todos os secretários de planejamento. Walter Pinheiro, que é senador, hoje, passou por esse cargo e ele fez um trabalho maravilhoso à frente da Secretaria de Planejamento. Se o nosso Sérgio Gabrielli tiver a disposição e a capacidade de Walter Pinheiro, com certeza vai dar certo. No governo do Estado está todo mundo segurando dinheiro, segurando isso e aquilo, passando por problemas de recursos. Os estados brasileiros e municípios estão passando por um grande problema de recursos. Eu tenho apontado isso, como deputado federal, dizendo que o partido nosso, o bolo dos recursos tem que ser mais bem dividido. A União, hoje, fica com praticamente 14% dos recursos que são repassados para os municípios e estados. Quando nós chegamos lá, era algo em torno de 20%. Agora, a presidente deu IPI zero no carro popular e esse IPI sai dos estados e municípios.
 
Tribuna: O senhor acha que, nessa reta final de definições, o governador Jaques Wagner vai se envolver diretamente nas campanhas aqui em Salvador e vai pressionar para que haja uma confluência de candidaturas da base dele, em torno de Pelegrino?
João Leão: Pelo que conheço de Wagner e pelo que trabalhei durante sete meses e 17 dias com ele, Wagner é um democrata e o melhor político que a Bahia tem na história. Na política, dou nota 10 a Wagner, ele é excepcional. Ele vai fazer o papel dele, que é eleger o candidato do partido dele, vai mostrar à população de Salvador que é viável o governo federal, estadual e municipal e nós vamos demonstrar, também, que o Partido Progressista tem pessoas que podem ter um governo tão bom ou melhor do que o do Partido dos Trabalhadores. 
 
Colaboraram Fernanda Chagas e João Arthur Matos. 

 Osvaldo Lyra EDITOR DE POLÍTICA

Publicada: 28/05/2012 00:25| Atualizada: 28/05/2012 00:21 

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