Em entrevista exclusiva à Tribuna da Bahia, o deputado federal e presidente estadual do PMDB, Lúcio Vieira Lima, em meio à indecisão em torno da união das oposições, cuja meta principal é derrotar o PT na capital baiana, disparou que pode garantir com 100% de certeza que o radialista Mário Kertész será candidato a prefeito de Salvador pelo seu partido. “Se amanhã tiver 99, eu vou ver o que fazer com esse um por cento. Mas, hoje, é 100% de certeza”.
Questionado sobre a polêmica em torno da candidatura própria do grupo contrário, admitiu que quando se tem diversos partidos políticos no páreo, sempre um, e, consequentemente, o seu partido, acha que está em mais condições que outro. “E abrir mão é sempre uma coisa muito difícil”.
Lúcio Vieira Lima não perdeu a oportunidade ainda de disparar contra o seu principal adversário, o PT, e disse não ter certeza se o candidato já declarado da PT, deputado federal Nelson Pelegrino, irá para o segundo turno. Mais além disso, que a sigla que está no poder abandonou Salvador.
ribuna da Bahia: Estamos chegando a uma fase da pré-campanha em que as definições políticas começam a se afunilar mesmo. O que falta para se chegar a um consenso e se apresentar um projeto único das oposições, em Salvador?
Lúcio Vieira Lima: Falta acertar. Falta definir se terá condições de chegar a um nome de consenso. Todo mundo sabe da importância que é ter um projeto único para facilitar uma vitória, ainda no primeiro turno. Se, infelizmente, não for possível cada um marchar com a sua candidatura. O que está faltando é que se estabeleçam critérios. Nós não podemos ter como critério apenas pesquisa eleitoral. Eu acho que o critério tem que ser mais amplo. Como assim? Pesquisa eleitoral é um critério, dentro de pesquisa tem que ver índice de intenção de voto, índice de rejeição. Depois a questão da estrutura, qual é o partido que tem condição de encabeçar para dar melhor estrutura ao número de vereadores que possam se formar em torno de uma coligação, em torno de um único nome? A questão de chapa de vereadores, qual é o partido que tem condição de apresentar uma chapa mais forte e mais densa para que se reúnam outras candidaturas, de outros partidos, para formar aquele exército que nós fizemos em 2008 quando o PMDB apresentou quase 500 candidatos a vereadores? A questão do conforto de toda a coligação, ou seja, você não pode dizer, apenas, “estou na frente nas pesquisas, tem que ser eu o candidato”. Essa candidatura tem que passar por uma eleição interna, dizer quais partidos apoiam tal nome e dessa forma chegar a um candidato. Se topassem isso, se fizessem isso, eu acho que se chegaria a um consenso fácil, mas, logicamente, quando você tem diversos partidos políticos, sempre um candidato de um partido se acha que está em mais condições que outro, e abrir mão é sempre uma coisa muito difícil.
Tribuna da Bahia: O que tem se falado muito é que o PMDB, hoje, é o principal entrave para a formalização dessa aliança, justamente porque o PMDB, no nível federal, é aliado do governo, é aliado do PT, diferente do nível estadual. Já o Democratas e o PSDB não são aliados nem nacional nem federal. Isso é um empecilho, o PMDB é uma pedra no caminho na composição de forças de quem se opõe ao governo do Estado?
Lúcio Vieira Lima : Não, de forma nenhuma você pode dizer que isso tenha alguma dificuldade. Pode até ter, mas não um empecilho. Porque, primeiro que a união das oposições não é para se dar só em torno de PMDB, DEM e PSDB. Eu lhe pergunto, e o PR? O PR também está nessa mesma situação? Faz parte da base do governo de Dilma. O PTB, da mesma forma, o PSC, da mesma forma. Então, isso vem, dentro daquele critério que eu falei, de dar conforto aos aliados. Se isso causa algum tipo de incômodo para esses partidos, não se pode exigir que a pessoa vá apoiar alguém e que não esteja à vontade, que traga algum incômodo. Temos que criar as condições para que isso seja superado.
Da parte do PMDB, isso não é empecilho nenhum, até porque, essa eleição, agora, é uma eleição intermediária. Não é uma eleição como a de 2014, que vai, sim, trazer a questão das alianças nacionais.
Tribuna da Bahia: Havendo uma aliança, um acordo do PMDB com o PSDB, com o Democratas, com o PSDB, há algum risco de vocês serem retaliados pelo governo federal? Vocês temem algum tipo de perda de cargo, de espaço no governo do PT?
Lúcio Vieira Lima: Olhe, primeiro que eu não tenho que ficar preocupado em sofrer retaliação ou não, tem que saber se alguém está disposto a retaliar. O PMDB não faz política apenas para ter cargo, ter emprego para seus filiados. Não é à toa que, nós, quando fomos disputar o governo, faltando mais de um ano antes, fizemos questão de entregar todos os cargos. A gente faz política baseada em projetos, baseada em propostas. O que nós move, agora, em apresentar um projeto para Salvador é a situação ruim, de baixa estima da população, de falta de investimento que Salvador se encontra. Se o preço que tiver que pagar para salvar Salvador for ser retaliado, perder algum emprego aqui e acolá, eu pago sem dúvida nenhuma, com a maior rapidez possível.
Nós não somos partido de sofrer esse tipo de pressão, não é por aí.
TB: A candidatura de Mário Kertész é para valer? O que a gente teria de cenários possíveis para que essa candidatura não se viabilizasse, para que não acontecesse na prática?
Lúcio Vieira Lima: É para valer. Ele já está aí participando, inclusive, das inserções do PMDB, logicamente, não como candidato, mas como filiado, ou seja, ele está levantando as bandeiras do PMDB. Já está em conversa com diversos partidos políticos, e eu não vejo, hoje, nada que possa impedir a candidatura de Mário Kertész. O PMDB, por si só, junto com o Partido dos Trabalhadores, que tem o maior tempo de televisão, ou seja, independente de coligação, nós temos mais de três minutos de tempo de TV. Nós somos, hoje, uma das maiores bancadas, segunda, talvez, bancada de vereadores. Então, nós temos já um exército, além de vereadores comandados, aqueles que poderão ser candidatos, temos uma chapa forte para levar o nome de Mário Kertész às ruas, aos bairros de Salvador. Então, eu não creio que tenha um impedimento, a não ser uma decisão pessoal, que já superou. Quando Mário tinha colocado que gostaria de ser candidato na união das oposições totais, nós fizemos um apelo a ele mostrando que é hora dele retribuir um pouco o que Salvador fez por ele. Salvador o elegeu duas vezes prefeito, ele foi presidente da Eletrobrás, ele foi secretário de Planejamento, então, está na hora dele contribuir agora, dar um pouco a Salvador, que tanto deu por ele, por sua família - aqui nasceram seus filhos, aqui foram criados. Ele entendeu esse chamamento.
TB: Antes de a gente entrar na questão da análise do que temos do cenário, hoje, de Salvador, se essa unidade que está sendo costurada, está sendo trabalhada com o Democratas, com o PSDB, com o próprio PR, não acontecer, qual o caminho mais natural, qual a alternativa para o PMDB? Além de Mário, existiria alguma possibilidade de entendimento com o PCdoB, com alguma movimentação nesse sentido?
Lúcio Vieira Lima: Nós estamos trabalhando na candidatura de Mário Kertész. Em política, você não pode dizer nunca: “fechar todas as portas”, você não pode dizer: “não irei por aí”. Agora, eu só posso pensar isso se tiver algum motivo para que Mário não seja candidato e, hoje, eu posso lhe garantir com 100% de certeza que Mário será candidato a prefeito de Salvador. Se amanhã tiver 99, eu vou ver o que fazer com esse um por cento. Mas, hoje, é 100% de certeza.
TB: Mário vindo a ser o candidato e não passando para o segundo turno ou até em um acordo, em um processo com o PCdoB, existiria alguma possibilidade, mesmo que remota, de o PMDB apoiar Nelson Pelegrino em um eventual segundo turno?
Lúcio Vieira Lima: Quando colocamos a candidatura de Mário, nós pensamos que ele irá para o segundo turno, certo? E, também eu não tenho certeza que Pelegrino irá para o segundo turno. Do jeito que está se colocando o quadro, nós podemos ter até seis ou sete candidaturas. Então, pode ir para o segundo turno com 17%, 20%, não vai ter aquele candidato com 30%, que vai para o segundo turno com esse patamar. Se confirmar esse número de candidaturas, tanto da oposição quanto da base do governo, que não conseguiram...8’25’’, vamos ter uma eleição parelha que podemos ter surpresa lá adiante, no segundo turno. Então, quando o segundo turno chegar, nós sentaremos à mesa e discutiremos, mas, logicamente, eu já penso, eu já estou entrando na disputa do primeiro pensando quem é que eu posso atrair, no segundo, para apoiar o nosso candidato para chegar à vitória.
TB: Qual seria o caminho natural para essa busca de entendimento para o segundo turno, esses partidos de oposição?
Lúcio Vieira Lima: Aqueles que não passaram para o primeiro. Eu acho que eleição em dois turnos é para isso, para você, primeiro, dar legitimidade ao eleito. Isso evita que você seja eleito com percentual pequeno de votos. Quando vai para o segundo, você vai ser eleito com mais da metade, com a maioria dos votos. Então, você tem mais legitimidade e você tem condição de no segundo turno, respeitando as candidaturas de todos, no primeiro, ver quem se identifica mais ideologicamente, com o projeto para a cidade. Então é isso que nós vamos ver, depois que Mário passar do primeiro para o segundo turno, nós somaremos todos os partidos que não passaram e falaremos: olha, aqui está o nosso projeto, é assim que nós queremos trabalhar para resgatar Salvador e precisamos de você nessa caminhada, nessa ajuda e vamos tentar conseguir o maior número independente, até porque, hoje, já se fala muito que não tem essa história de esquerda, direita, não é isso que falam? O vice-governador disse que esquerda e direita é sinal de trânsito. Então, hoje está tudo muito pragmático e dentro desse pragmatismo, eu vou levar uma proposta de resgatar Salvador para os soteropolitanos, para os baianos.
TB: Você acredita que os partidos que estão na oposição, hoje, podem estar perdendo o time de apresentar um candidato ou isso já pode estar em um processo atrasado? Já poderia estar com uma definição maior?
Lúcio Vieira Lima: Sempre defendemos que o anúncio fosse feito antes do Carnaval. Esse foi um dos problemas que tivemos nas conversas preliminares. Outros partidos gostariam de esperar mais e o PMDB estabeleceria uma definição para começar a pré-campanha. Como também não houve a definição por parte da base do governo, o jogo está zerado. Qual foi a movimentação partidária que teve até hoje? Teve anteontem, com o PSD a apoiar o candidato do PT. O PSD que já sabia, é um partido que não tempo de televisão, não acrescenta muita coisa. Foi formado já sabendo que seria apêndice do PT, não é um apoio novo, não trouxe nada de novo. O PSD foi formado com esse objetivo.
Então, não houve movimentação nenhuma, o jogo está zero a zero, o atraso está para os dois lados.
TB: Você acredita que, a oposição, chegando dividida, chegando rachada, vai ter condições de bancar a máquina do governo federal, a máquina do governo do Estado, vai conseguir desbancar o candidato do PT?
Lúcio Vieira Lima: Quando não há a união da base do governo, está todo mundo chegando rachado. É aquilo que eu digo, vira um japonês. O PT tem um patamar, tem um voto tal, mas levava sempre o PSDB, o PSB, levava junto o PCdoB, levava os partidos ditos de esquerda. Quando tem uma divisão dessas, nós nem sabemos qual o tamanho do PT, na verdade, porque sempre foi aquele arco que marchava unido. Você vê que, historicamente, o PT nunca ganhou eleição em Salvador. A história não tem que ser só para um lado, tem que ser analisada para os dois. Salvador sempre foi uma cidade de oposicionistas e agora, mais ainda porque está claro que o governo do PT está pouco fazendo ou nada fazendo para Salvador. O candidato do PT vai chegar com que discurso nas praças públicas? Você tem cinco anos que o governador é do PT, o que fez por Salvador? Então, como é que o candidato a prefeito, do PT, vai dizer: é importante me eleger prefeito porque eu sou do mesmo partido do governador e tenho condição de fazer. Se tem, por que não fez? Se antigamente, no tempo de Antônio Carlos, acusava que a prefeitura era uma secretaria porque só o governo que fazia obras, que tinha a Conder que fazia obras em Salvador. Quer dizer, antigamente funcionava e agora não funciona? Então, o PT, na verdade, demonstrou um desprezo muito grande pela nossa capital e, esse preço, ele vai pagar nas urnas porque o povo não é besta, o povo sabe que o PT, da Bahia, fez muito pouco por Salvador.
TB: Qual a avaliação que você faz, hoje, da administração do prefeito João Henrique, já que o PMDB foi um dos principais responsáveis pela reeleição dele?
Lúcio Vieira Lima: Olhe, hoje você teve a questão da rejeição das contas na comissão de finanças, mostrando a administração ruim do prefeito João Henrique. E, talvez, ele se elegeu por outro partido, estava uma administração péssima, com uma rejeição enorme e quando veio para o PMDB, nós demos nova cara à prefeitura, resgatando em termos financeiros, em termos administrativos, valorizando funcionários, fazendo muitas obras, o que levou à reeleição. Depois, ele se afastou do PMDB e voltou a implantar aquele projeto familiar dos primeiros anos de mandato, o que deu novamente no que deu.
Então, é nítido que quando o PMDB tinha influência na administração de Salvador, Salvador cresceu, Salvador mudou e, infelizmente, a culpa que nós temos é a culpa de acreditar em João Henrique, a culpa de termos sido enganados por João Henrique. Essa foi a culpa do PMDB.
TB: Para a gente finalizar, o senhor acredita que, quando o próximo prefeito assumir, vai ser possível preparar Salvador de alguma forma, já que a gente não vê a cidade sendo preparada para a Copa? Vai ser possível, em um curto espaço de tempo, dar, pelo menos, um novo formato com relação aos serviços públicos, com relação à fluidez da própria cidade? Vai ser possível colocar isso em prática?
Lúcio Vieira Lima: Eu acho que vai ser possível e tem que ser possível. O que eu não aceito e o que o povo não aceita mais é vir com discurso de herança maldita. Quem está disputando eleição está sabendo que Salvador está um caos, está sabendo que Salvador não tem recursos, está sabendo que a administração está malfeita, que não existe gerenciamento.
Então, logicamente, quem for assumir terá um ano, que seja, para preparar e apresentar resultados. O que não pode é ficar o mandato todo dizendo que recebeu a casa assim, que tem uma herança maldita. Ora, se estivesse tudo bacana, o pessoal não estava votando contra a administração de João Henrique.
Então, a coisa está ruim. Quem é candidato sabe que está assim e não tem o direito de dizer à população que recebeu herança maldita. Nós vamos eleger o novo prefeito para dar jeito, para consertar, para colocar Salvador em um novo caminho.
Colaboraram: Fernanda Chagas e João Arthur Matos
Osvaldo Lyra EDITOR DE POLÍTICA