Política - Transexual entra para história da Bahia

16/03/2012 17:31

 

Militante dos direitos homossexuais há seis anos, Paulette Furacão tornou-se, na manhã de ontem, a primeira transexual empossada para um cargo público na Bahia. Uma cerimônia realizada na sede da Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos da Bahia (SJCDH), no Centro Administrativo (CAB), a oficializou como representante do Núcleo LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) do estado, criado com o objetivo de contribuir na formulação de políticas públicas para a igualdade de gênero em território baiano, especialmente na geração de empregos.


“Essa não é apenas uma vitória de Paulette Furacão, mas sim de toda a comunidade LGBT da Bahia. Já percebemos que o Brasil está atrasado nas políticas públicas para o seguimento LGBT.

Mas isso vai começar a mudar. Eu quero perder rapidamente o título de única. Até hoje nunca houve uma oportunidade para uma travesti dentro de um órgão do governo na Bahia, principalmente para um cargo com tamanha importância”, disse a transexual, que planeja mudar o cenário do mercado de trabalho para transexuais na Bahia.

“Quando era mais jovem, diziam que só poderia trabalhar como cabeleireira ou vendendo meu corpo. Estou aqui para provar que essas pessoas estavam erradas e quero também proporcionar chances para pessoas como eu”, destacou.
Paulette Furacão tornou-se militante da causa LGBT em 2006, dois anos após o assassinato da amiga Laleska D’Capri, que deu nome a uma associação de luta pelos direitos dos homossexuais. Com sede no Nordeste de Amaralina, a entidade faz parte do Fórum LGBT baiano e participou da Primeira Conferência Nacional LGBT em 2008.
 
Defendendo ideais – Segundo o secretário estadual de Justiça, Almiro Senna, a posse de Paulette Furacão é um exemplo de que o Governo coloca os ideais em prática. “Esta nomeação tem força política nessa questão de luta por direitos. Há quem diga que é fácil defender princípios, mas que é difícil concretizá-los.

O que estamos fazendo aqui é tornando o nosso discurso realidade. Isto é um passo para mudar a feição do estado e da sociedade, que é extremamente racista, preconceituosa e machista”, enfatizou.
Para o fundador do Grupo Gay da Bahia (GGB), Luiz Mott, a posse ocorre tardiamente, mas representa um grande passo para a luta contra a homofobia. “Foram necessários mais de 400 anos para que um travesti assumisse um cargo público no estado. Espero que não sejam precisos mais quatro séculos para dar um fim a essa monstruosidade que é a homofobia.

Fico estarrecido quando vejo notícias como a do casal de gays que foi espancado na Estação Pirajá por estar de mãos dadas. A Bahia precisa mudar esse cenário. Somos o estado com maior número de homossexuais assassinados. Só este ano já foram 11. O Núcleo LGBT precisa lutar contra esse mal e Paulette será cobrada por isso. Queremos direitos iguais, nem menos, nem mais”.
Presente à cerimônia, o representante da Secretaria Municipal de Trabalho, Thiago Brandão, projetou uma evolução no tratamento dos homossexuais no estado a partir da criação do Núcleo LGBT. “Estou feliz por Paulette ser a primeira transexual a ocupar um cargo público, mas triste por ser a única. Espero que mais travestis possam ser inseridos no mercado de trabalho, inclusive em áreas que não são de sua militância”, pontuou.
Thiago Pereira REPÓRTER
Publicada: 16/03/2012 00:15| Atualizada: 16/03/2012 00:02
Foto retirada da Internet (google)